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Sentado feito imbecil
Com um controle remoto,
Transito de próprio moto
Numa atitude pueril,
Embora eu já bem senil,
Com o dedo meio gasto,
Como um burro eu olho o pasto
Na tela em cada canal,
Nessa demência global
Onde tenho o meu repasto.
Esse vício contagioso
Camuflado de lazer,
Impede-me de aprender
Porque me deixa ocioso,
Dá-me a impressão que é um gozo
E em vez de ler algo sério,
Eu me rendo a esse império,
Sem dar bom proveito às horas…
Porque a mídia me devora
Num marasmo deletério.
Rodando hora após hora.
Do 2 ao 67,
Vejo violência e vedete,
Gente que mente e nem cora.
Na TV que nos explora,
Canal aberto ou fechado,
Vejo os podres do Senado,
Perco horas todo dia,
Sofrer já virou mania,
Sinto-me hipnotizado.
-Quem foi que matou Taís?
O mundo inteiro pergunta,
Enquanto essa mídia ajunta
Muito palpite infeliz…
Porém o que ninguém diz,
É quem matou a cultura,
Transformou as criaturas
Em seres robotizados,
Idiotas globalizados
Cavando sua sepultura.
A falta de solidariedade entre os homens faz com que os bancos de sangue estejam sempre com falta de estoque. Especialmente os mais raros. Têm menos receptores, mas também menos doadores.
O problema, e dizemos isso sem nenhum conhecimento técnico do assunto, parece estar na falta de planejamento e na acomodação dos responsáveis pela coleta do material.
Por que o governo não remunera de alguma maneira o doador? Muitos operários, saudáveis e sensíveis, gostariam de doar sangue. Acontece que eles terão de faltar ao trabalho, perder tempo, gastar com transporte, dinheiro que nem sempre têm, e como recompensa, eles recebem, quando muito, um copo de leite.
Se o governo tirar o traseiro das confortáveis cadeiras e deixar as refrigeradas salas dos centros de saúde e se dirigir a locais onde possa coletar sangue, seguramente os doadores aumentarão. Ambulâncias com enfermeiras poderiam ir aos postos de arrecadação de sangue, previamente selecionados.
Por que não visitar fábricas, com aviso antecipado, para cadastrar os que desejam doar? Por que não ir às câmaras municipais e às assembléias estaduais, onde estão os que tiram o sangue do povo, e tirar um pouquinho do sangue deles? Igualmente nas casas do legislativo federal, nas salas do executivo e mesmo do judiciário, nas universidades, nos clubes, nas sociedades amigos de bairro… Eles têm muito sangue e, geralmente, sangue quente! Até mesmo os presidiários poderiam ser fornecedores, com redução de um dia de pena para cada doação.
O que não pode é o governo arrancar o sangue do povo e depois vender por baixo do pano, como sempre é denunciado.
Outra sugestão? Ofereçam um ingresso para um show de artista famoso a quem doar sangue. Outro ingresso para uma partida de futebol importante. Como o governo gosta de levar vantagem em tudo, é o maior apologista da Lei de Gerson, se o doador levar também uma quirera, vai se animar. Talvez até acabe se acostumando e passe a doar espontaneamente.
É muito cômodo fazer campanha de graça em horário nobre de TV, receber repórteres, com filmagem e tudo, para reclamar da insensibilidade do povo que deixa as geladeiras de sangue esvaziadas, posando de benemérito da humanidade. Mas como qualquer esforço é um trabalhinho, melhor reclamar do que trabalhar. Certo?
Ao trabalho, senhores! Enfrentem o marasmo!
São 9 horas do dia 27 de setembro de 2007. Diz o relógio do mundo que já somos seis bilhões, seiscentos e vinte e três milhões, setecentos e dezoito mil trezentos e oitenta e oito imbecis. Claro, menos 0,1% de privilegiados que vivem à custa desses seis bilhões e tantos.
Quando lemos que Ronaldinho Gaúcho tem proposta do Chelsea da Inglaterra para ganhar três milhões e seiscentos mil reais por mês para dar meia dúzia de chutes numa bola e ainda merece nosso aplauso e o título de gênio, sacramentamos nossa condição de imbecis.
Boato diz que Fernando Alonso, depois de envolver-se em espionagem técnica com prejuízo para a Ferrari, é agora convidado pela fábrica italiana para ser um de seus pilotos oficiais. E nós nos prostramos diante da TV, como imbecis assumidos, para torcer por este ou aquele, como se isso fosse coisa de gente séria. E ainda aturamos as patriotadas e matemáticas do ilustre Sr.Bueno.
Quando vemos uma cantora saracotear e soltar gritinhos histéricos diante de milhares de pessoas durante uma hora e meia e para isso ganhar quinhentos mil reais, temos aí mais uma assembléia de imbecis, assumidos e de carteirinha. Os antigos diziam que ao povo se devia dar pão e circo. Hoje, suprimiram o pão.
Ao nos depararmos com uma mulher de corpo bem feito e medidas corretas, mesmo por meio de recheios artificiais, ganhando milhões de dólares para rebolar diante de alguns privilegiados, que não estão entre os imbecis, exibindo roupas que valem ouro, nós acreditamos que houve equivoco na fórmula da criação… Furou, quem sabe!
Convidam os imbecis todo ano para que sejam extorquidos. Fazem campanha que levam esperança a crianças e mandam que depositemos nas contas de certos privilegiados nossos minguados reais e ainda nos cobram uma taxa pela ligação. Muita gente se dá bem com essa onda, menos as crianças que efetivamente precisam da caridade. Mas eles sensibilizam os imbecis com tal habilidade que saímos correndo para contribuir, imaginando que é coisa séria.
Dependemos dos celulares que nunca falam e custam caro. Mas ao constatar que esses mesmo celulares pegam os sinais perfeitamente nos presídios, de onde é administrado o crime aqui fora, e as autoridades não conseguem bloqueá-los, temos a confirmação de que somos imbecis e só morremos por balas perdidas porque os poderes oficiais dão efetiva colaboração, embora nos discursos tentem provar o contrário. Não sabemos o que é mais perigoso: o bandido ou a autoridade.
Os imbecis aplaudem e votam nos políticos que habitam as clausuras do direito e do poder. Os mesmos que, camuflados, traçam intercâmbios para benefício mútuo, porque, eleitos para ajudar e defender os imbecis, na verdade só defendem eles mesmos. Ali, a portas fechadas, não se condena ninguém, porque ninguém tem estatura moral para acusar. Se gritar “pega ladrão!…”, música cantada pelos Originais do Samba…, já nos vem logo à mente o final do refrão.
Reúnem-se dez chefes de estado, travestidos de donos do mundo, e decidem sobre a sorte de todos os imbecis, deliberando quais países serão invadidos ou explorados e o que cada um deve e pode comercializar com o outro.
Os governos fazem lista dos desonestos para dificultar-lhes a vida. Mas os governos são os mais caloteiros e maus pagadores do planeta. Como não podem ser protestados nem processados, nem ter falência decretada, vivem de apontar as deficiências alheias. Mas se um imbecil é processado e prova que não deve, o governo recorre. Sem prazo, porque não lhe interessa correr por algo que não dá lucro. Nesse meio tempo nós que pagamos impostos corretamente ficamos impedidos de obter uma certidão que atesta a nossa idoneidade.
Os imbecis têm descontado, à revelia, nas folhas de pagamento uma porcentagem para ter uma velhice protegida. Mas quando ela chega está todo mundo perdido. Não há garantias de receber o que foi combinado, porque eles dizem que não têm dinheiro. Para funcionário público tem, mas para o trabalhador imbecil, não tem. É assim que funciona. Eles deveriam criar supermercados para ricos e outros para pobres. Mas isso não existe. Fazer o quê?
Os imbecis falam, reclamam, flagelam-se diante das notícias da TV ou das páginas escritas e eles riem. Estão sempre bem vestidos, elegantes e simpáticos, na mídia, importantes, mas se lhes tirarem os cargos e os fizerem cidadãos comuns, cairão de quatro porque são vazios. Se tiverem que trabalhar para viver, morrerão de fome. Usam jogos de palavras que não representam necessariamente as suas convicções, mas as suas conveniências. Por isso, o cristão de hoje será sem nenhum problema o comunista de amanhã. Só têm mesmo os postos que ganharam e não querem perder… Nunca mais! Afinal, eles não estão entre os da direita da vírgula sem razão.
Entrem no site http://poodwaddle.com/worldclockes.htm e verifiquem quantos imbecis nascem a cada décimo de segundo no mundo, para constatar como os espertos terão inextinguível matéria prima para alimentar sua desonestidade e boa vida. E a grande maioria desses que agora estão nascendo, terá de procurar no lixo o alimento da teimosa sobrevivência.
Além disso, buscarão nas cacimbas e nos açudes barrentos as águas salobras para matar-lhes a sede, banhar seus filhos e cozinhar os restos que caem da mesa dos ricos ou que conseguem nas lixeiras das ruas da elite. Bem feito. Quem mandou nascer!
Enquanto isso, meia dúzia de idiotas tentam sabotar a transposição das águas dos rios brasileiros para lugares onde a seca é um flagelo o ano inteiro. É o BBB da ralé!
Ao ver o mundo parar para perguntar quem matou Taís e já com o anúncio de nova trama de duas caras, quando os personagens mudarão, mas as mutretas e as lições de criminalidade continuam as mesmas nessa nossa Universidade Oficial do Crime, a TV brasileira, subsidiada por respeitáveis empresas que também vivem da imprudência dos imbecis, nos rendemos e caímos vencidos. Nada mais há a fazer. O planeta ruiu porque o sistema faliu! Como planta bichada, só cortando para começar de novo. Não adianta mudar homens. São todos iguais e se não são, ao chegar ao alto padronizam-se alterando o que eram como ideal para ser o que é preferível ser, como meio de vida.
Mas, apesar deles, a poesia continua, porque pelo menos a bronca é livre e eles ainda não mataram as rimas! Camões já a usava desde 1572. O Brasil estava recém “descoberto”. Os imbecis eram poucos. Hoje já somos quase duzentos milhões! E a cada dia, mais longevos. Que coisa triste ter de viver na condição de imbecil.
As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando
Cantando espalharei por toda a parte
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Luís de Camões,
Os Lusíadas (1572)
Canto I, 1-2
Como o negro atado ao pelourinho, nascemos todos grudados à mãe!
Tão logo vemos a luz, escravizamo-nos ao seio materno, o primeiro passo na luta pela sobrevivência. Quando já não está seco, logo de cara, frustrando-nos!
Viramos escravos da respiração; do alimento da sobrevivência; do agasalho; da rinha chamada família para nos abrigar, da higiene, para limpar-nos corpo e alma, e do leito para repor o desgaste das lutas pela libertação, quando tentamos desvencilhar-nos da escravidão ao destino.
Somos escravos da infância e do analfabetismo que precisamos combater. Vamos à escola onde somos escravos de um sistema falido, de professores mal pagos e, conseqüentemente, ineficientes.
Tentamos o particular, mas nos escravizamos à ganância do empresário da cultura que coloca como ideal primeiro o enriquecimento. A formação do saber vira detalhe…
Mas não desistimos e nos escravizamos ao cursinho para compensar a desilusão de um estudo mal feito e tentar vaga numa universidade. Aqui, a escravização é às greves dos insatisfeitos e insensíveis, que são também escravos da sua ignorância.
Um diploma! Finalmente!
Para que serve, além de decorar a parede do nosso quarto ou servir de enfeite no escritório ou consultório de um ancestral, a cujo DNA nós nos escravizamos. Somos um galho de uma árvore, geralmente sem vida própria.
Talvez sirva, ainda, como documento para sermos mais um funcionário desta saturada máquina pública, na qual para cada dois que controlam e fiscalizam existe um que quer trabalhar, mas os outros não deixam.
Sem conseguir essa desejada premiação para pôr nosso burro na sombra, nossa escravização, a partir de agora, será à falta de postos de trabalho. Toda a alegria da conquista e colocação do anel no dedo, desaparece diante de uma realidade a cada dia mais funesta. Somos escravos da inexperiência que eles nos cobram, mas que nunca nos deixaram ter.
Escraviza-nos o celular, o automóvel que paga imposto escorchante para andar em ruas e estradas avariadas, e os tributos que os poderosos nunca nos devolvem em benefícios. Somos escravos de um título de eleitor, sem ter nada a fazer com ele. Mas somos obrigados a portá-lo porque a lei nos escraviza. Dão a isto o nome de cidadania, mas eu lhes digo o nome certo. Esperteza, que eles usam para se perpetuar na ociosidade das salas com ar condicionado, aluguel de graça, turismo com o nosso dinheiro e o resto que todos conhecem.
Somos escravos do banco, do supermercado, do cartão de crédito e do cheque pré-datado. Nesta senzala global, cada um de nós é um artigo de consumo que produz riqueza para os espertos desfrutar.
Escravos de inúmeras doenças, geralmente causadas pelos destruidores do planeta e pelas tensões que não podemos controlar, procuramos o SUS. É a primeira sílaba da palavra SUSTO, porque ali é lugar de morrer não de sarar.
Ficamos escravizamos, quando possível, à mafia dos planos de saúde que cobram o que querem, aumentam quando ficamos velhos e escolhem as doenças que podemos ter e o tempo que devemos ficar internados. Como se hospital fosse SPA ao qual nos afeiçoamos e de onde não desejamos sair.
Somos escravos da TV, do rádio e do jornal. Das notícias que falam dos desonestos e mostram como eles sempre se dão bem. Somos escravos dos Institutos de Aposentadoria que arrebanharam o nosso dinheiro, compulsoriamente, prometendo nos devolver quando estivéssemos inválidos, mas agora nos surrupiam um pouco a cada ano, até que se acabe ou tenhamos a sorte de morrer antes e não mais precisar dele. Que felicidade isto seria! Parece que é na verdade a única coisa agradável nesta vida…
Espero me livrar desta senzala verde e amarela brevemente, porque meu tempo está vencendo. Guardo a esperança de ter nesta escravidão avassaladora, conquistado alguma alforria que não me obrigue a ir para o inferno. Mas se eu tiver que ir para lá, não devo estranhar. Foi num ambiente semelhante que vivi por mais de setenta anos no chamado berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu, pro fundo. Cada vez mais pro fundo…
E, além disso, se for condenado à escravidão do inferno, estarei cercado de gente tão importante, das casas legislativas, executivas e judiciárias de todas as esferas deste coração do mundo, que vivem nos mais de 5500 municípios. Sem contar com os representantes de todas as igrejas e templos de fé de toda ordem, que farão uma grande festa, com hosanas e louvores, enquanto todos nós vamos queimando em fogo brando como um apreciado e bem temperado churrasco gaúcho.
Faremos alguns comentários sobre assuntos absolutamente simples, mas que medem a civilidade de um povo.
No trânsito, por exemplo, identificamos facilmente os homens e as feras, por suas atitudes. Os primeiros são solidários; as feras transitam sempre pelas vias preferenciais, porque preferencial é a rua por onde elas passam. Nunca facilitam a vida de ninguém. São egoístas e prepotentes!
As auto-escolas, além de ensinar que devemos sair em primeira marcha e só depois passar para as seguintes, deveriam informar algo mais, igualmente importante. Dizer, entre outras coisas, que o veículo está equipado com uma série de acessórios que, inclusive, elevam o seu preço e têm de ser utilizados. Ensinar que não se deve, por exemplo, fazer conversões sem dar sinal de luz.
Outra recomendação que contribuiria para diminuir o estresse do tráfego é o respeito aos cruzamentos. De nada adianta avançar dois ou três metros e impedir a livre passagem do que está no outro sentido. Mais do que regular-se pelas leis, o trânsito deve ser regido pela solidariedade. Usar direitos ferindo direitos alheios, em nada contribui para a harmonia do conjunto. Quem não respeita não merece ser respeitado!
O mesmo se dá no caso das greves, um direito muito mal usado. E não cogitamos aqui se os grevistas têm ou não razão. Apenas analisar que é um jeito malvado de reivindicar direitos.
Param os médicos por melhores honorários, sem se importar com a dor e a doença do semelhante. Paralisa-se o transporte público para agredir o governo, mas quem sente na pele é a população que fica a pé. Os carteiros interrompem a distribuição de correspondência onerando devedores ou credores por juros de atraso no pagamento. Que direitos mais bestas!
Neste último caso, as perspectivas são sombrias. Instrui-nos o Procon que cada um deve procurar os seus direitos. Claro!. O contribuinte que trabalha metade do ano só para pagar tributos, deve ser um desocupado que pode, na falta de coisa melhor, ir tomar chá de cadeira no Procon. E observem que os carteiros querem reposição salarial de quase cinqüenta por cento. Ah!, se os aposentados pudessem fazer greve, pediriam reposição de mais de quinhentos por cento pelos roubos que sofreram através do tempo. Mas eles só podem fazer greve na hora de votar!… Se é que um dia vão acordar e se decidir…
O trágico é que vivemos num país onde o supremo mandatário foi o grande professor das paralisações no ABCD paulista, deu à luz os piquetes que agridem aqueles que discordam do movimento e invadem empresas, afrontando os locais de onde tiram a própria sobrevivência. Portanto, não está confortável para enfrentar o problema.
Está na hora de revermos a nossa constituição de modo a que os direitos de um não atropelem os do outro. Hoje, como acontece com o presidente, estamos do lado de cá. Amanhã, poderemos estar do lado de lá.
Pela constituição, os trabalhos essenciais não podem ser totalmente paralisados. Deve haver um mínimo de trabalhadores para que o serviço não pare totalmente. Mas quem é que liga para a constituição?
Para termos um mundo de paz será preciso construí-lo. Por milagre, como há muito todos esperamos, ela nunca chegará!
A falta de serviço e a deficiência cultural das pessoas, leva-as a buscar soluções que possam acomodar a comunicação ao analfabetismo.
De quando em vez, os donos do idioma português decidem fazer reformas para que as pessoas errem menos quando falam ou escrevem. No passado, entre outras reformas, já aboliram o acento grave dos advérbios terminados em mente e derivados das proparoxítonas, como tecnicamente, que se escrevia tècnicamente. Tiraram também os acentos dos homônimos e homógrafos.
Alguns foram mantidos, como pôde e pode, pára e para, pôr e por, para citar alguns exemplos. A dificuldade para decorar exceções é maior, às vezes, do que conhecer as regras.
Agora vão tirar o trema e certos acentos circunflexos em vogais dobradas. Muito mais difíceis são o uso de vírgula, dois pontos, ponto e vírgula, hífen, aspas, saber se a palavra é com “j” ou com “g”, com “ç” ou “ss”, com “x” ou com “z”. Se a idéia é facilitar, vamos abolir todas essas conseqüências nascidas da origem latina do nosso idioma.
Já pensaram se os americanos decidissem atualizar a língua deles pelo inglês ou, o pior, vice-versa. Seria obrigatório aos aristocratas londrinos dizer I’ll e não mais I will; I d’ont e não mais I do not. Mas eles não se preocupam com isso porque tem mais coisas a fazer.
Unificar a língua entre todos os povos que a falam é uma utopia. O português usa muito o som aberto. Para nós é comboio e para os lusitanos combóio. A fila para nós é a bicha para eles; a latrina para nós é retrete para os portugueses. E nunca vai mudar.
Em Portugal praticamente não se usa o gerúndio, que no Brasil é coloquial e erudito. Nós dizemos “eu estou fazendo”, enquanto nossos irmãos d’além-mar dizem “estou a fazer”.
Os idiomas brasileiro, angolano, timorense e outros, têm suas próprias características porque foram adaptados à linguagem popular, transformando-se, praticamente, em dialetos.
Cada país tem seus próprios dialetos no mesmo povo. No Brasil o português do sulista não é o do nordestino. Enquanto no sul dizemos “botou pra quebrar”, no nordeste se diz “botou pra torar”. A abóbora do sul é o jerimum do nordeste; o curau do sul é a canjica do nordeste enquanto que a canjica do sul é o mugunzá ou munguzá nordestino.
Em Portugal existe o português do continente, o trasmontano, o da ilha da Madeira, o dos Açores; na Espanha, o espanhol, o basco, o catalão, etc. O mesmo acontece na Itália, na Holanda e em quase todos os países do mundo.
Há coisas muito mais importantes a fazer do que destruir dicionários, fazer novos livros didáticos e criam despesas que dificultam a chegada das letras aos interessados.
O importante não é tirar o trema ou o acento circunflexo de meia dúzia de palavras. O importante é que as pessoas possam se comunicar e que os veículos que fazem esse trabalho sejam mais bem escritos, com menos erros e que sirvam de estímulo para a aculturação dos leitores.
Deixem de inventar modas e dediquem-se a coisas sérias.
Essa é uma iniciativa de desocupados e só vai dificultar a vida das pessoas que já conhecem tão pouco o idioma e acabarão por saber menos ainda.