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Germano Romero
germanoromero@gmail.com
E viva o Nordeste!
Mas que coisa feia essa discriminação em tom de revolta responsabilizando o Nordeste pela vitória de Dilma Roussef… Que demonstração de atraso, logo de quem se julga melhor que os outros! E justamente quem teve mais oportunidades de educação, mas parece que não se educou.
Aliás, não existe maior evidência de inferioridade do que se achar superior aos semelhantes, uma prova indiscutível da própria mediocridade. Isso se cravou no exemplo histórico do pai da filosofia como uma das maiores demonstrações de sabedoria: constatar que quanto mais se aprende da vida, menos do mundo se sabe. Quanto mais expande a consciência, o raciocínio, a percepção cósmica e a compreensão, menor se julga quem realmente é sábio e inteligente.
Que bom que fomos capazes de eleger o chefe da nação, e que o Nordeste deixou de ser aquela regiãozinha miserável e insignificante perante o “sul maravilha” Que bom que o turismo aqui haja crescido, ora disputado pelos próprios sulistas, que dantes ignoravam a nossa qualidade de vida. Só de imaginar que ainda há estúpidos e desinformados a pensar que aqui só existe calor, fome e não se tem nem internet; coitados.
Deus nos livre daquele caos da paulicéia sufocada de congestionamento e violência, coberta por densa nuvem de poluição e estresse. Deus nos livre de viver longe das belezas que nos sorriem logo cedo, como o sol no céu límpido a iluminar as manhãs do Cabo Branco, as igrejas de Olinda, as falésias de Tabatinga, as dunas do norte, os lençóis do Maranhão e tantas outras paisagens puras e bucólicas. Sem falar no bom humor e na simpatia de seu povo.
Que bom que o Nordeste mostrou a sua cara alegre, saudável, independente e bem disposta. Que soube agradecer à atenção dispensada por Lula em obras de grande porte, que há muito não se viam. Estradas, viadutos, portos e aeroportos, turismo incrementado fomentando hotéis paradisíacos e resorts monumentais, tudo isso incomoda, sabia? Em verdade eles nunca quiseram Lula lá, nem que nos desenvolvêssemos. Queriam, sim, que continuássemos à sua mercê, trabalhando para a eterna e injusta desigualdade. Não, caro sul sem maravilha, o Nordeste agora provou do que é capaz.
Saiam das poeirentas quitinetes de concreto; do tumulto dessas ruas, do medo, da noite, dos trens entupidos de tristeza e correria. Venham ver de perto como é feliz o nosso povo e ameno o calor com brisa. Venham ver no sertão uma lua que seus olhos nunca viram.
Venham sentir a delícia e o privilégio de tomar um banho de mar numa noite de luar. Ouvir um bem-te-vi ao léu, um coqueiro farfalhar, e em paz poder dormir sem remorso nem pesar.
Jornal Correio da Paraíba de 5 de novembro de 2010.
Respondemos com o texto abaixo que o Correio da Paraíba optou por não publicar.
PRECONCEITO X PRECONCEITO
caumo@caumo.com
O título deste texto poderia ser “E viva o Sudeste”, como paráfrase ao do arquiteto Germano Romero publicado neste jornal em 5 do corrente, quando ficou agastado com a declaração de uma imatura estagiária de direito a respeito dos nordestinos, já demitida porque os patrões foram os primeiros a censurá-la.
O articulista transformou a jovem em porta voz do povo paulistano, agredindo a minha cidade, como se o preconceito contra o nordestino fosse tão generalizado quanto o preconceito do nordeste contra o “sul maravilha”, definição deveras pejorativa.
Pede ele a “Deus que o livre do caos da paulicéia sufocada de congestionamento e violência, coberta por densa nuvem de poluição e estresse”.
Quando à violência, para quem sabe fazer conta, Recife, Campina Grande, João Pessoa, superam e muito São Paulo, proporcionalmente. Quanto ao congestionamento e poluição, seguidos de estresse, são resultado do dinamismo de um povo, composto de nordestinos, também, como o imortal paraibano José Neumanne Pinto, honrado que está com o título de cidadão Paulistano, e que vivem felizes na grande cidade.
Recomenda ainda o cronista, que as pessoas “saiam das poeirentas quitinetes de concreto, do tumulto dessas ruas, do medo da noite, dos trens entupidos de tristeza e correria”. Pior que estas, também se vê no Varadouro, no Distrito Industrial, no Alto do Mateus, no conjunto Mario Andreazza, bairro São José e em toda periferia abandonada pelos poderes públicos de João Pessoa e arredores. Poesia é lindo, mas a realidade é outra!
São Paulo não é só quitinete empoeirada; É também o Morumbi, os Jardins, Alphaville e muitos outros locais onde se vive com conforto e tranquilidade. E Romero sabe disso porque a conhece. Todavia, ainda prefiro o povo das quitinetes empoeiradas, porque é deles o mérito da pujança da terceira cidade do planeta, o primeiro mundo do Brasil.
Quando convida a visitarmos os mares e o sol nordestinos, os lençóis maranhenses e a lua do sertão, esquece que isso é privilégio de poucos, além de ser presente de Deus e não trabalho dos nordestinos. Ao contrário, destroem as belezas naturais – vide barreira do Cabo Branco -, como fazem todos os povos do planeta, sem falar da seca e a miséria de grande parte dos municípios paraibanos. Daí as migrações.
A poluição sonora que atormenta os ouvidos em João Pessoa, faz menos mal que o preconceito entre irmãos. Se nenhum tipo se justifica, mesmo contra estrangeiros, quando é que vamos “curar a miopia” – segundo o Senador Roberto Cavalcanti – para lutar juntos por um Brasil melhor.
Quem assina este comentário é um velho de 76 anos, nascida na Rua Itapeva, 81, próximo as MASP da Av. Paulista e que tem em suas células o DNA de um pedreiro analfabeto e uma doméstica, mal alfabetizada, que nunca freqüentou escola. Foi industrial ao tempo do líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, mas nunca foi incomodado por ele porque respeitava seus funcionários.
Em 1997 veio morar em João Pessoa, onde recebeu a Medalha Augusto dos Anjos e o título de Cidadão Paraibano por contribuição à cultura da Paraíba. Já prefaciou cerca de quinze livros de autores locais e apresentou outros tantos sem nunca fazer qualquer comentário desairoso contra o nordeste; daí, refuta a agressão do prezado Germano.
Escritor e poeta – www.ocaumo.wordpress.com
Nota – Sinto-me no direito de defesa porque fui industrial no ABCD – território do Sr Lula, e entre os meus 150 funcionários havia no mínimo cinquenta por cento de nordestinos, desde operários até executivos. O chefe de Fábrica Geral era de Parnaiba-PI; o encarregado da expedição, soteropolitano; o chefe da contabilidade, baiano do interior, assim como os encarregados dos setores de sais de fundição e sais de cloro que eram também dois baianos.
Trabalhavam contentes e elogiavam o tratamento social que a firma lhe dispensava: bom restaurante, grêmio, convênio médico, etc, tudo de graça, o que não era comum nos anos 60/70.