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Olhando-me no espelho, o que vejo?
Um velho com saudades da criança
Que eu fora, quando havia só a esperança
De ser feliz um dia; era o desejo!…

Não guardo qualquer mágoa da lembrança
Da miséria do velho lugarejo,
Que às vezes, se recordo, lacrimejo,
Relembrando o trajeto da mudança…

Tempos duros, de muito sofrimento,
Apesar de que, com discernimento,
Os meus pais me guiaram qual faróis…

Se hoje eu não mais sinto tristeza,
Se venci meu passado de pobreza,
Devo a eles, meus anjos, dois heróis!

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No teatro da vida eu me apresento!
Recordo-me de cada personagem,
Que interpretei durante esta passagem,
Entremeando alegria e sofrimento.

Foi preciso munir-me de talento,
Para vencer percalços da viagem,
Superando os períodos de estiagem
Em fases muito estéreis desse evento!

Fui rei, fui palhaço, fui senhor…,
Mas o que mais eu fui é sonhador,
Esperando que Deus me descobrisse!…

Queria que depois de mostrar zelo,
O Pai me oferecesse o seu desvelo
E a porta do seu Céu então me abrisse…

Velho só fala em doença,
Em remédio de pressão,
Exame de PSA
E problemas de ereção,
Além de colesterol
Que entope o seu coração.

Também de câncer de mama,
Que pode até ser letal,
Dor de artrose e reumatismo,
Problema abdominal,
Resultado do intestino
Que não funciona normal.

Também sofre de enxaqueca,
Problemas de digestão,
Dor nas juntas, na coluna,
E muita indisposição,
Queda de cabelo e dentes
E problemas de visão,

Precisa reposição
Da quantidade hormonal,
Que se perde a cada dia,
Como uma coisa normal,
Quer seja homem ou mulher,
Pois sem isso passa mal.

Sei muito bem dessas coisas,
Pois a minha mocidade
Já terminou, e faz décadas,
Posso falar à vontade,
E afirmar que é uma tolice
A tal da melhor idade!

Mas mesmo assim vale a pena
Nesta vida envelhecer,
Pois só não vai ficar velho
Quem muito cedo morrer
E quem morre cedo perde
Um tempo bom de viver.

Eu prefiro durar muito,
Mesmo se ficar caduco
Ainda que, por ser velho,
Tenha de me encher de fuco,
Pois melhor é um velho inteiro
Que um jovem belo e eunuco…

Por isso você que é moço
Use de muita paciência,
Prestigie quem é velho,
Sinta por ele clemência,
Pois logo terá sua hora,
De conhecer a impotência!

No crepúsculo da civilização em que rumamos para a alvorada de novos milênios, o homem que amadureceu o raciocínio supera as fronteiras da inteligência comum e acorda, dentro de si mesmo, com interrogativas que lhe incendeiam o coração.

Quem somos?

Donde viemos?

Onde a estação de nossos destinos?

À margem da senda em que jornadeia, surgem os escuros estilhaços dos ídolos mentirosos que adorou e, enquanto sensações de cansaço lhe assomam à alma enfermiça, o anseio da vida superior lhe agita os recessos do seu, qual braseiro vivo do ideal, sob a espessa camada de cinzas do desencanto.

Recorre à sabedoria e examina o microcosmo em que sonha.

Reconhece a estreiteza do círculo em que respira.

Observa as dimensões diminutas do Lar Cósmico em que se desenvolve.

Descobre que o Sol, sustentáculo de sua apagada residência planetária, tem um volume de 1.300.000 vezes maior que o dela.

Aprende que a Lua, insignificante satélite do seu domicílio, dista mais de 380.000 quilômetros do mundo que lhe serve de berço.

Os Planetas vizinhos evolucionam muito longe, no espaço imenso.

Dentre eles, destaca-se Marte, distante de nós cerca de 56.000.000 de quilômetros na época de sua maior aproximação.

Alongando as perquirições, além do nosso Sol, analisa outros centros de vida.

Sírius ofusca-lhe a grandeza.

Pólux, a imponente estrela do Gêmea, eclipsa-o em majestade.

Capela é 5.800 vezes maior.

Antares apresenta volume superior.

Canópus tem um brilho oitenta vezes superior ao do Sol.

Deslumbrado, apercebe-se de que não existe vácuo, de que a vida é patrimônio de gota d´água, tanto quanto é a essência dos incomensuráveis sistemas siderais, e, assombrado ante o esplendor do Universo, o homem que empreende a laboriosa tarefa do descobrimento de si mesmo volta-se para o chão a que se imanta e pede ao amor que responda à soberania cósmica, dentro da mesma nota de grandeza, todavia, o amor no ambiente em que ele vive é ainda qual milagrosa em tenro desabrochar.

Confinado ao reduzido agrupamento consanguínea a que se ajusta ou compondo a equipe de interesses passageiros a que provisoriamente se enquadra, sofre a inquietação do ciúme, da cobiça, do egoísmo, da dor. Não sabe dar sem receber, não consegue ajudar sem reclamar e, criando o choque da exigência pra os outros, recolhe dos outros os choques sempre renovados da incompreensão e da discórdia, com raras possibilidades de auxiliar e auxiliar-se.

Viu a Majestade Divina nos Céus e identifica em si mesmo a pobreza infinita da Terra.

Tem o cérebro inflamado de glória e o coração invadido de sombra.

Orgulha-se, ante os espetáculos magnificentes do Alto e padece a miséria de baixo.

Deseja comunicar aos outros quanto apreendeu e sentiu na contemplação da vida ilimitada, mas não encontra ouvidos que o entendam.

Repara que o Amor, na Terra, é ainda a alegria dos oásis fechados.

E, partindo os elos que o prendem à estreita família do mundo, o homem que desperta, para a grandeza da Criação, perambula na Terra, à maneira do viajante incompreendido e desajustado, peregrino sem pátria e sem lar, a sentir-se grão infinitesimal de poeira nos Domínios Celestiais.

Nesse homem, porém, alarga-se a acústica da alma e, embora os sofrimentos que o afligem, é sobre ele que as Inteligências Superiores estão edificando os fundamentos espirituais de Nossa Humanidade.

Capítulo 1 – do livro Roteiro de Emmanuel por Chico Xavier.

 

Eu vejo no Centro pessoas rezando
E outras pensando na vida que têm,
De olhos fechados, sem ver mais ninguém,
Em meditação, ou sonhando, sonhando…

A cada segunda, lá vão pontualmente;
Vejo muita gente com tal compromisso
E eu me pergunto: – por que fazem isso
De forma contrita e assim reverente?…

São moços são velhos, solteiros, casados,
Descompromissados, homens ou mulheres,
Porém cada um com seus próprios misteres,
Que chegam do mundo a ficar alienados.

Já são quinze anos que os vejo fazê-lo
Com o mesmo zelo do primeiro dia
Trocando a tristeza por fé e alegria,
Esperando ser para o outro um modelo.

Durante a palestra, que é sobre o Evangelho,
Percebo que o velho e o moço, igualmente,
Procuram ouvir, e sempre atentamente,
As orientações que só dão bom conselho.

E passam os anos, o tempo se apressa,
Cada um se confessa feliz com a benesse,
Até que ao final, no momento da prece,
Estão satisfeitos e fazem promessa!

Prometem que vão alterar sua vida,
Fazê-la vivida tendo utilidade,
Porque este momento de tranquilidade
Lhes trouxe lições de ternura e guarida…

Todos que compomos o Lar desses gênios,
Que existem há milênios, ficamos felizes
Por ver que não se abrem mais as cicatrizes
Em quem é tratado por nobres Essênios.

E nós seus adeptos, frágeis encarnados,
Fomos convidados a esta parceria
Para dar amor e espalhar alegria,
Que nos faz sentir muito recompensados.

Que possa durar este nosso serviço,
Curando o enfermiço que nos pede ajuda,
Pedindo que Deus o proteja e o acuda
Porque é um privilégio poder fazer isso!

Seria na inspiração do poeta concentrado ou no homem distraído, sofrido ou desesperado?


Talvez fique, disfarçado, no canto do passarinho, ou se esconda, camuflado, nalgum gesto de carinho…
Quem sabe o poema está na lágrima que nos veio e que rolou pelo rosto, dividindo a face ao meio…
Pode ser que o verso more num amor que se perdeu ou numa chuva ligeira, ou na ilusão que morreu.
Pode esconder-se na onda, de espumas brancas do mar, no coração da semente, que fenece ao germinar, no interior de alguma rosa que até o espinho admira, na orquídea grudada ao galho, enquanto flora e respira… Há um poema perfeito escondido na criança, ou no zumbido do inseto, ou quando existe esperança! Há verso no sol que nasce, mas não igual ao da lua. Há poemas que nos chegam a todo instante, nas ruas, no mendigo que uma esmola pede na hora da dor ou na dádiva cristã que dá amparo ao sofredor…
A poesia se encontra no cão que faz companhia, em uma estola de lontra, no cheiro da maresia…
Onde se esconde o poema? foi a pergunta inicial. Ele mora num diadema, num amor de carnaval, no abominável racismo, nas nuvens que guardam chuvas, na vaidade, no egoísmo, num belo cacho de uvas.
Para que serve o poeta, se nele não há poesia, embora como uma asceta, busque no ar a melodia?
Que fique bastante alerta para perceber os temas e depois lhes dê boa forma, como convém aos poemas.
O poeta tem os olhos cheios de imaginação, por isso é que se destaca no meio da multidão. Enquanto ele vê na folha, que despenca e vai ao chão, um mundo inteiro de vida, ninguém mais presta atenção. Rolando no vendaval, tem um poema guardado, traz o germe do ancestral que um dia foi enterrado para dar frondosa planta, com flores sombras e fruto: a semente que morreu e renasceu num minuto.
Portanto, você poeta, procure em qualquer lugar, porque o poema se esconde onde você procurar; basta olhar com olhos ternos, pesquisando o mar da vida, porque é nas coisas do eterno, que a poesia está escondida.  

A imagem acima é um risco para pintura em óleo sobre tela, de Leonardo da Vinci.
Boletim Informativo "Tribuna Literária"
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