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Octávio Caúmo Serrano – caumo@caumo.com
Já afirmava o insigne poeta lusitano, Fernando Pessoa, citando frase antológica da velha marinharia, que “navegar é preciso; viver não é preciso”.
Se naquele tempo, quando a navegação era controlada apenas pelos astros, pois o marinheiro se guiava pelas estrelas, ele já afirmava que navegar era algo preciso, controlável, enquanto que viver não tinha precisão, hoje com a instrumentalidade formidável dos radares e sonares que controla as navegações, por mar ou por ar, quando até comandantes são substituídos por equipamentos que dirigem a máquina, aí é que a distância fica maior entre navegar e viver.
Viver nunca foi preciso porque é tudo mera tentativa. Não temos piloto automático que conduza nossa vida, se nem mesmo nós, donos dela, sabemos bem como dirigi-la. Produzimos as causas sem conseguir garantir os efeitos. Mesmo quando somos bons, amigos, solidários, não podemos ter a certeza de receber de volta na mesma moeda. Tudo é duvidoso e impreciso.
Como guiar-nos, então, se não há instrumento que nos garanta bons resultados? Só há um guia: o Evangelho de Jesus, porque Ele nos cientifica que ao fazer algo por outrem é a nós que fazemos; de bem ou de mal. Os sentimentos que guardamos em nosso coração e em nossa mente são propriedade nossa e só atingem a nós mesmos. Quem guarda mágoa estoca veneno que lhe corrói o ânimo, a saúde e o humor! Ser feliz é uma atribuição nossa que só nós podemos administrar. Ninguém busque a felicidade nos outros ou nas posses. A única lei triunfante é a do amor incondicional; com amigos e com inimigos… Algo impossível ainda para nós!
Podemos, usando o Evangelho como bússola e fazendo ao outro o que desejamos que ele nos faça, ainda que ele nem sempre o faça, transformar a vida também em algo preciso. Lei do físico Newton diz que “a toda ação corresponde uma reação igual e contrária da mesma intensidade”. Ao ser bom, ficamos proprietários dessa atitude que o ladrão não rouba! A única coisa verdadeiramente nossa é o bem que fazemos. Aí podemos contrariar Pessoa e os velhos navegadores e afirmar que viver também pode ser algo preciso. Mas isso é só para quem sabe, acredita e tem coragem. Quem continua mantendo a vida medíocre dos avarentos e gananciosos como nós, continuará sempre convicto de que viver não é preciso…
Jornalista e poeta
Correio da Paraíba de 22/05/2015
Poderia me informar seu endereço?
É claro. – Eu resido ali na esquina,
Logo após onde existe uma cortina,
Toda feita de paz como adereço!
A casa é muito mais do que mereço;
Bem ampla e seu telhado é de neblina,
O que, quando é calor, só me reanima
E me faz sentir bem com tanto apreço…
Minha casa é a rua, onde me interno,
Local onde os vizinhos são fraternos
E sempre, solidários; dão-me amor…
Sou feliz, disse ele, com o que tenho
Por isso que, ao deitar, eu me desenho
Embrenhado na luz do Criador!
Octávio Caumo Serrano – caumo@caumo.com
No dia 8 de maio passado, dia da rendição das forças do eixo, em 1945, voltei um pouco no tempo. Retornei aos meus onze anos quando fui leiteiro, padeiro, açougueiro e servente de pedreiro, época em que faltava tudo, para quem não tivesse acesso ao câmbio negro; inclusive os alimentos básicos como leite, pão, carne, açúcar e que tais. Pobre em faculdade era utopia. Na minha casa. luz só de vela ou lampião e água de poço, tirada com sarilho.
Nestes oitenta anos, vi Getúlio suicidar, Jânio renunciar, Jango ser deposto; vivi sem geladeira, internet, fogão a gás, porque não existiam. Telefone, fiquei em fila de espera 25 anos. Passei pela vida durante um tempo sem TV? Um milagre! Vi nascer a Willys Overland no ABC paulista como primeira fábrica de carros que só rico podia comprar. Vi planos e falta de planos. Coisas que até Deus duvida e não sei como sobrevivi sem computadores tablets ou celulares.
Passei pelo Plano Bresser, Plano Verão, nascimento, vida e morte do cruzado e cruzado novo, Plano Collor, o governo que roubou o povo e que hoje tem seu idealizador tratado como honrado político brasileiro. Sobrevivi à incompetência do mágico que caiu no planalto de paraquedas e deu um nó na economia brasileira que levou dez anos para desatar. Criou uma Lei universalista para nos salvar. Simples. Tirou três zeros da moeda e decretou que o dólar ficaria ao par com o dinheiro brasileiro e que a inflação seria zero. E ainda revogavam-se as disposições em contrário! Não sei por que não exportou a ideia para os miseráveis países africanos, asiáticos e latino americanos, livrando da miséria toda a humanidade terráquea. Um gênio sem lâmpada! E que se manteve importante até 2015. Uma burla, disfarçado de líder!
Assisti, in loco, quando o ex-presidente fundava CUT e PT e infernizava a vida de quem queria trabalhar. Insuflava greves e de forma agressiva invadia as empresas. Esse mesmo que fez a sucessora com 70% de aprovação e que agora não tem 10%. Foi no tempo em que o salário subia 20% e o produto acabado subia os mesmos 20%, embora salário e encargos não representassem nem metade do custo final. Assim acontece nas inflações e nas crises. Com elas rico enriquece, com elas pobre empobrece. O rico apenas lamenta e o pobre só ganha estresse.
Pobre do que usa salário mínimo em mercado. Tem razão de reclamar da crise. Rico não. A crise dele é porque seu ganho baixou de 1.000 para 999. Um enorme prejuízo; tadinho! Vai ter de mudar a marca do uísque e conformar-se por passear na Europa apenas três vezes por ano!
Jornalista e poeta
Jornal Correio da Paraíba – 15 de maio de 2015
Octávio Caúmo Serrano – caumo@caumo.com
Surgem sem que os percebamos. Nossa posição, situação e evolução, fazem com que pessoas se enciúmem das nossas qualidades. Sem falar de trabalhos que nos obrigam a atitudes que acabam nos criando desafetos. Como exemplo, um chefe a quem compete demitir pessoas pela necessidade do equilíbrio da empresa. Por mais delicada que seja a atitude e a maneira de dar a notícia, a revolta é automática. Provoca mágoa e cria inimizade.
Outros momentos em que fazemos inimigos são quando: censuramos o preguiçoso por sua ociosidade; enaltecem nossa inteligência ante um ignorante pretensioso; somos educados diante de um grosseirão; exercitamos a paciência à frente de um estouvado; mostramos fé a um ateu; somos descontraídos perante um introvertido; cultivamos a humildade junto a um orgulhoso; somos desprendidos ao lado de um egoísta; recebemos elogios na presença do invejoso; enaltecem nossa beleza diante de alguém menos bonito e complexado… Etc…
Nessas oportunidades, criamos inimigos sem ter culpa. Nada fizemos para ofender o outro. Mas diante do inseguro, do incompetente, nada precisamos fazer. Ele se ofenderá não pelo que lhe fazemos, mesmo que só lhe ofereçamos atenção e gentileza; o que o incomoda é como somos. Não somos superiores, mas eles se sentem inferiores!
Se tivermos a oportunidade da convivência, podemos amainar as desavenças; se pudermos fazer com que o outro nos conheça melhor e se adapte às diferenças, entendendo que na desigualdade também existe harmonia, e que todos têm seu próprio lugar, então a inimizade poderá ser suavizada e até vencida. Mas é preciso habilidade. Quando nos aproximamos do outro ele já tem opinião formada a nosso respeito e não serão atitudes esporádicas que mudarão seus conceitos. Mas como quem tem mais deve dar mais, cabe-nos, se estamos nessa condição, tomar a iniciativa para que o entendimento se estabeleça.
Como o importante é fazer amigos, e isto sim depende de nós, compensemos os prováveis inimigos convivendo com os que se agradam por estar ao nosso lado; que se sentem bem junto a nós, têm interesse em ensinar-nos e também em aprender conosco. E quanto aos inimigos, deixemo-los com suas próprias inquietações. O tempo é o melhor professor!
Jornalista e poeta
Correio da Paraíba de 1/5/2015