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Tem gente que vive fazendo discurso,
Tem gente que anda falando ao jornal,
Mas é, na verdade, como o amigo-urso,
Que vive só dando lições de moral.

No seu falatório, no seu carnaval,
Só vive correndo atrás de recurso
Para viver bem, porque é tão venal,
Que para ter cargos nem presta um concurso.

Bem fácil falar, mas fazer não é tanto!
São conversas moles que enchem de encanto
E enganam o povo em primeiros de abril!…

Para combater cada vil dramaturgo,
Só mesmo fazendo-se um completo expurgo,
Nos grupos que mandam no nosso Brasil.

Como o véu de uma noiva ainda donzela,
Desce do alto da rocha uma cascata,
Espalhando gotículas nas matas,
Deixando suas árvores mais belas!…

São ipês, que têm flores amarelas,
E ali estão desde os tempos dos primatas,
Que recebem, das gotas cor de prata,
O carinho nas formas mais singelas.

E essa água que cai, incessantemente,
Com uma zoeira que entontece a gente,
A espalhar ondas como um vibrador,

É a música de Deus que ali se expressa,
Na queda deslumbrante que não cessa,
Inspirando poesia ao trovador!…

Com muito sacrifício conseguiu
Erguer  uma casinha  na favela
E foi, de pouco e pouco, dentro dela,
Armazenando os bens que adquiriu.

Um fogão velho, a cama, e para o frio,
Aquecedor a gás e umas panelas,
Um candeeiro para pôr a vela,
Até que ali chegou a água do rio.

Com chuvas fortes, tipo temporal,
Mais de uma vez, acima do normal,
As águas transbordaram além do leito,

Atirando-o de novo ao desabrigo…
Perdeu tudo. Voltou ao mundo antigo,
Carregando só as mágoas do seu peito.

Neste calidoscópio das idéias
Descubro pensamentos coloridos…
Uns mais singelos outros atrevidos,
Como em tétrico enredo de odisséias…

Em mil nuances, como nas ninféias,
Tal qual vulcão que explode enfurecido,
Vêm-me palavras que nos seus sentidos
Uivam qual lobos quando em alcatéia!…

De que mistério é feito o pensamento,
Que nos domina e chega num momento
Com essa força e destemor audaz?…

Penso que ele é a voz  itinerante
Que vem do céu trazendo, galopante,
Novas receitas de fazer a paz!

Com 20 mil de sinal,
Comprei um apartamento,
Dei mais oito prestações,
Saldadas no vencimento,
Porém a firma não entrega,
Porque a justiça, que é cega,
Protege o mau elemento.

Eu já movi um processo,
E reclamei no Procon,
Todos se comprometeram
A acertar a situação,
Mas na hora da verdade,
O cinismo e a leviandade
Barram qualquer solução.

Quem me vendeu o imóvel
Goza de muito conceito
E devido à boa fama
Nem precisa ser direito.
Faz festas pra todo mundo,
Porém sabe, lá no fundo,
Que não merece respeito.

Não menciono o nome dele,
Guardo a mágoa só pra mim,
Mas, um dia, lhes direi
Depois que chegar ao fim,
E lá, no apartamento,
Contarei  meu sofrimento,
Tudo, tintim por tintim.

Esse grupo, em João Pessoa,
Gente do tipo arbitrário,
Recebe, mas não entrega,
Faz todo mundo de otário
Eu também fui iludido
E ando muito aborrecido,
Pelo conto do vigário.

O pior foi que, inclusive,
Por acreditar no tal,
Vendi a casa onde eu morava
E assim me dei muito mal,
Recebi, não entreguei,
Mas ao dono não neguei
O seu direito real.

Dei-lhe logo a escritura
Da posse definitiva,
O que não se deu comigo,
Porque cheio de evasiva,
O vendedor procrastina
E o direito subestima
Não cumprindo a tratativa.

Com medo, então, de um  enfarte,
Pois sofro de hipertensão,
Busquei alguma maneira
De acabar com a agitação;
E, assim, com desprendimento,
Aluguei um apartamento
Pra resolver a questão.

Foi com essa providência,
Confiando no porvir,
Que pude me acomodar
E fui ali residir;
Entreguei a casa ao dono,
Já não mais perco o meu sono,
Agora posso dormir.

Reclamamos da violência,
Mas quem os outros maltrata
É também um terrorista,
Fingido de magnata,
Porque a esperada paz,
Acreditem, não se faz
Com truculência e bravata.

Tudo aquilo que alguém ganha
Agindo como um meliante,
Precisará devolver
Agora ou mais adiante.
E, o pior, lá no futuro,
Terá de pagar com juro,
Não será mais petulante.

Mas esses tipos que pensam
Que tudo podem comprar,
A justiça, os empregados,
Até as pessoas do lar,
Dirão, lá, na frente, um dia:
– Eu juro que não sabia
Que Deus iria me cobrar.

Isso se deve a uma lei
Chamada ação e reação,
O que se faz, se recebe,
A vista ou a prestação.
Paga-se a conta, amiúde,
Com dinheiro ou com saúde,
Até o último tostão !

Essa certeza é que anima
A que sejamos decentes.
Sentimos muita piedade
Desses tais irreverentes,
Porque, ao final do rolo,
Todo espero vira tolo,
Quebra a cara e range os dentes !

Depois de ser condenado a pagar mil reais por dia, o vendedor entregou o apartamento!

O mundo está inundado,
Vamos morrer afogados
Com tanta corrupção,
Mas eu vou me encher de fé
E fazer, como Noé,
A Arca da Salvação.

Ela vai servir de abrigo
E penso levar comigo
Pessoas de todo jeito;
Um casal pra cada hora,
Que vou mencionar agora,
Espero fique perfeito.

Vão dois que façam do riso
Uma constante, é preciso
Descontrair, ser feliz.
Às vezes é conveniente
Sorrir, irracionalmente,
Das coisas que o povo diz.

Um casal inteligente,
Que saiba viver contente
Sem ter afetada luz,
De muita sabedoria,
Mas que viva o dia-a-dia
Do jeito que fez Jesus.

Outro bem equilibrado,
Com refino, bem formado,
Que possa servir de exemplo
Para os demais que ali estão,
Pra que aprendam a lição
Como se ali fora um templo.

Desejo um casal de atletas
E também um de poetas
Para levar o louvor
Aos casais que ali estão,
Lutando, quase que em vão
Por gestos de paz e amor.

Quero um par com instrumentos,
Que acompanhe o som dos ventos
Na melodia da vida,
Enquanto a arca navega
E toda gente carrega,
Cantando na despedida.

Quero um casal que organize
E selecione, precise,
A parte de cada um.
Quero também cozinheiros
E também dois marceneiros
Para o serviço comum.

Sei que logo há de chegar
Quem irá se apresentar
Pra ser gerente da arca,
Com um grupo de auxiliares,
De civis e militares,
Pra intervir na minha barca.

Eles vão querer mandar
E os outros vão trabalhar
Pra sustentar os espertos.
Vão fazer uma eleição,
Partidos se criarão
E hão de brigar, por certo.

Não sei se será vantagem
Organizar a viagem
Pra salvar alguns coitados!
Tenho a impressão que depois
Minha esposa e eu, os dois,
Vamos ser muito explorados.

Todos vão fiscalizá-la
E vou ter de penhorá-la
Para pagar os impostos
Vão pedir nota fiscal
Para cada material
Que nela usei; eu aposto!

Serei um inadimplente
Vão pôr, imediatamente,
Minha arca no leilão
Não sabem que se eu afundo
Abandonado no mundo,
Vai junto a tripulação.

Melhor esquecer o sonho
Coisa de tipo bisonho,
Sem comparar-me a Noé.
Ele soube ter capricho,
Pois salvou somente bicho,
Não quis homem, nem mulher.

Mesmo assim a sua arca
Virou uma grande fuzarca
Até espatifar-se um dia.
Não quero meu Ararat,
Melhor deixar como está
E esquecer a fantasia.

A imagem acima é um risco para pintura em óleo sobre tela, de Leonardo da Vinci.
Boletim Informativo "Tribuna Literária"
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